sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Te Contei?

"Fronteiras? Nunca vi uma. Mas escutei falar que elas existem dentro da cabeça de algumas pessoas."

Thor Heyerdahl, explorador e geólogo noruguês.


Panorama ao se passear de barco pelos fiordes da Noruega.

Ao navegar pelos fiordes tem-se a sensação de que não se viaja para algum lugar, mas através de um lugar, pois todo o trajeto encanta a vista e transforma a viagem numa experiência única. Na Noruega, esse efeito eu tinha o tempo todo – dentro de um trem, de um ônibus ou a pé pela cidade. Talvez tenha sido o país de mais belezas naturais que conheci. Não existe uma coisa específica que mais tenha me encantado lá, mas foi a totalidade do que vi. Um verdadeiro paraíso, onde a gente experimenta um grande bem estar físico e mental. 

Trecho tão estreito, que a embarcação não passava.

 

Fiorde é uma parte do mar que penetra nas terras, ocupando o espaço entre montanhas muito altas e íngremes – são vales rochosos inundados pelo mar. Quando se passa por um, a sensação é de proximidade das duas margens de montanhas. Alguns são tão estreitos que só dá pra acessá-los a pé, e me lembraram um pouco os cânions em Cambará do Sul-RS. Os mais aventureiros também praticam caiaque ou trekking por aquelas paisagens.

  

Bergen é a cidade que me abriu as portas para isso tudo. Os arredores do mercado de pesca (Fish Market) é onde eu senti a cidade mais viva e colorida. As montanhas ali de perto me lembraram Ouro Preto-MG – ruas estreitas, subindo pelos morros de forma bem irregular, acompanhando uma arquitetura bem característica daquele lugar. Mas é porque essa é a referência que eu tenho por ter estudado em Ouro Preto. Talvez você não ache nem um pouco parecido.

Bergen.


Há vários passeios pelos fiordes saindo de Bergen e, sinceramente, tenho certeza de que, pra quem está diante de um pela primeira vez, qualquer passeio serve. Não me pergunte por quais fiordes eu passei, porque essa não foi uma informação que cuidei. Todos eles têm nomes complicados e que não significam nada para mim, comparado à sensação de plenitude diante da natureza que eles me provocaram. E também porque norueguês é uma língua que não me diz nada; a única palavra que conheço é “fiorde”. Eu peguei por uma das excursões mais baratas, com duração de um dia – tomamos ônibus e barcos e a paisagem era de se admirar muito 100% do tempo. Você pode contratar um passeio simples de barco; ou fazer ainda um minicruzeiro; ou o famoso Norwegian in a nutshell, que é MUITO caro, mas tem também suas vantagens. E a Noruega eu colocaria no top 3 dos países mais caros que conheço (total de 33).

Vi várias dessas casas, com grama no teto.

A única desvantagem pode ser o frio, dependendo do dia que você pegar. Eu fui no verão e nem sempre eu conseguia ficar do lado de fora do barco, porque às vezes o frio cortava, mesmo que tivesse sol. Paramos na hora do almoço num museu que conta a formação geológica norueguesa desde o período paleolítico, e lá assistimos a um filme num cinema 180 graus, aqueles em que a tela corresponde a toda sua visão periférica. Tão realista, que eu me senti realmente voando.

  

O passeio começou às 7h da manhã na rodoviária de Bergen, onde saímos de ônibus por 1h30min até a primeira balsa. Recomendo levar lanche, porque não dá tempo de parar para lanchar, a não ser que compre dentro do barco. Sente-se sempre no mesmo lugar no ônibus, sem se preocupar se a vista do outro lado está mais interessante ou não. Se você não viu aquilo na ida, verá na volta.


O tempo mudou bastante durante o passeio.

Bergen recebe muitos visitantes, aparentemente quase todos vinham dos navios de cruzeiro ali atracados (havia três). Não foi meu caso, que cheguei de trem vindo da capital, Oslo, e fiquei em Bergen apenas dois dias, devido ao preço. Depois voltei pra Oslo, onde fiquei mais dois dias e saí desse país caro logo. Se você for de Oslo para Bergen de trem, recomendo sentar no lado esquerdo (lado do motorista). Eu estava do lado direito e tive a impressão que na esquerda havia muito mais lagos, neve e paisagens interessantes do que no meu lado. Mas talvez tenha sido uma impressão de quem normalmente pensa que a grama é mais verde no lado do vizinho. De qualquer forma, as janelas são bem grandes, dá sempre pra dar uma espiadinha no panorama do vizinho. Ao entrar no trem, ninguém confere o bilhete e o passaporte que você porta. Apenas dentro do trem, depois da viagem já iniciada, é que um funcionário passa, conferindo apenas o bilhete.


Chegando a Bergen, perguntei ao taxista da estação quanto daria aproximadamente uma corrida até minha hospedagem (a 2km dali). Ele respondeu: “De 180 a 200 coroas norueguesas”, o que daria cem reais. Eu disse que seria caro e ele me sugeriu pegar o bonde, que saía da porta da estação. Senti muita honestidade nele. Se fosse num país de terceiro mundo, não acho que a conversa teria sido a mesma.

Oslo.

Dois dias depois, ao deixar de Bergen... adivinhe. Justo naquele dia os bondes pararam de circular e eu não sabia de nada. Eu percebi que a tela eletrônica da parada estava meio estranha, mas não entendi, porque estava tudo escrito em norueguês. Uma menina que passou pelo ponto e me avisou, sugerindo pegar ônibus. Fui para o ponto de ônibus, como ela disse, mas começou a bater o desespero de o ônibus estar demorando e resolvi apelar pra um táxi. Assim que o táxi parou e eu entrei, o ônibus apareceu. Só senti uma pontada no peito por causa dos R$80,00 que foram pagos sem necessidade. Mas ainda bem que sempre gosto de ir pra estação ou aeroporto com pelo menos uma hora de folga. E essa é uma informação que é sempre bom repetir, até pros viajantes mais experientes.

  

Oslo tem também seus fiordes. Mas, como eu já tinha conhecido os de Bergen, e, em Oslo, é possível fazer passeios de barco que param, em média, a cada vinte minutos, das várias pequenas ilhas que fazem parte da cidade, me contive em fazer apenas isso. As ilhas são repletas de casinhas pequeninas e coloridas, que as pessoas costumam usar somente durante o verão. Lindoya é a ilha mais bonitinha, na minha opinião.


  

Na prefeitura de Oslo há uma breve visita guiada gratuita, que dura 15 minutos apenas, e achei que valeu a pena, pois o prédio é muito bonito. Embora suas esculturas e pinturas façam mais sentido para quem é norueguês, são muito bonitas de se admirar.

   

Há dois parques de escultura em Oslo: um é o Ekebergparken, que eu não visitei; e o Vigeland, das fotos que aparecem aqui. Existem dois estilos de esculturas no Vigeland, todas feitas pelo artista Gustav Vigeland: as que estão sobre a ponte, que são mais engraçadinhas; e as que estão ao redor do monólito ao final da avenida. Estas últimas têm expressões faciais mais dúbias, que externalizam vários sentimentos, e com linhas de expressão diferentes, mostrando que cada pessoa representada tem uma idade. Todas me fizeram ver o quanto o corpo humano nu é lindo.

 


Preços de julho de 2019, quando um real era 2,2 coroas norueguesas (NOK). Então, pra saber em real, pense na metade do número:

Café vendido dentro de um dos barcos em Bergen – 28NOK

Sopa no mercado do peixe, com uma fatia de pão e sachê de manteiga em Bergen – 57NOK (foto).

Dicas rápidas para caminhadas: nunca vá sozinho; volte a tempo, com o céu ainda claro; não tente atravessar rios.

Cada viagem de ônibus circular em Oslo custa 56NOK (se comprar com motorista) ou 36NOK (se comprar na máquina), mas há o passe de 24 horas, que custa 108NOK adulto e 54NOK idoso, válido para ônibus, bonde e barcos.


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Verão Vermelho

"Falo português quando estou feliz".

Silvia, rainha da Suécia.

 

Viajar da Finlândia para a Suécia de navio foi bem divertido, mesmo que tenha durado apenas 15 horas. Quando estou num país diferente, nunca encaro o deslocamento como algo cansativo. Pegar ônibus ou trem na cidade onde moro, sim, é bastante chato. Mas, fora de casa, tudo é tão diferente, que fico sempre olhando a paisagem e não o livro ou o celular. E, em navio, o deslocamento é ainda mais divertido. No navio que peguei, pra ir de um país pro outro, havia dois ambientes com música ao vivo e crianças dançando bastante. Centro de informações, cassino e restaurantes (pagos à parte). Pena que a viagem durou apenas uma noite, porque eu já comecei a sentir saudade de ficar navegando por aí.

Palácio de Drottningholm, onde mora a família real.

Dormi, e, de manhã, fui pro convés pra assistir a chegada do navio a Estocolmo, mas o frio impediu. O vento era muito gelado, mesmo sendo verão (é que estamos falando de verão nórdico). Assisti através do vidro mesmo e, duas horas antes de chegarmos à Suécia, a paisagem já era espetacular, por conta da grande quantidade de ilhas. Estocolmo está entre o Mar Báltico e o Lago Mälarem, então fazem parte do seu território várias ilhas, algumas pequenas, outras ainda menores, unidas por 53 pontes.

Troca da guarda no Palácio de Drottningholm. Acontece todo dia.

Do porto, chamei Uber usando o Wifi do próprio porto. Como minha hospedagem ficava a 7km de  lá, o funcionário disse que essa seria a melhor escolha mesmo. No fim do dia fui passear pela parte histórica (Gamla Stan e arredores). Fiquei mais afastado do centro pra pagar menos na hospedagem, então tive de pegar ônibus e trem, com o bilhete de 72 horas, válido também para metrôs e balsas. O metrô também pode ser algo a se conhecer, já que várias estações são temáticas. Então, se for inverno e você sentir que está impossível andar na rua, vai dar umas voltinhas de metrô que está tudo resolvido. Percebi que todos os semáforos fazem barulho, pra ajudar os cegos. Como eu saí de Estocolmo de ônibus em direção a Oslo, usei esse primeiro dia pra estudar a rodoviária e ver como eram os guarda volumes e de onde exatamente o ônibus sairia.

A rua mais estreita do país.

Depois de passar a manhã do segundo dia explorando o centro histórico por minha conta, achei que pegar um free walking tour seria uma boa pra conhecer a história por trás daquelas paredes. Meu guia Juan é um chileno que deu o passeio todo em espanhol e contou muitas fofocas da família real sueca, tipo o da princesa que se apaixonou pelo seu instrutor da academia e se casou com ele (pensa num cara de sorte); e a história talvez mais chocante da história sueca, que foi o banho de sangue em que muitas pessoas foram executadas em praça pública, num massacre que durou dias. Terminamos diante do Banco nacional mais antigo do mundo, que fica em frente a uma estátua de um senhor que olha pro alto, usando óculos escuros. Há muitas estátuas divertidas assim pela cidade. E lá eu tive a minha primeira aula de sueco. Após o passeio, enquanto eu divagava pelo lugar, duas pessoas de uma agência de propaganda me abordaram, pedindo pra me filmar lendo os dizeres de um cartaz em língua sueca. A ideia da campanha é filmar turistas falando sueco, pra que a campanha tenha muitos sotaques e mostre como Estocolmo é diversa. O resultado você vê no instagram deles, aqui: https://www.instagram.com/p/BzhwtKHhX8p/?igshid=1go3pnpdbzmzo.

Bem perto dali está a rua mais estreita da Suécia, que tem 90cm de largura e uma escada de 36 degraus. Terminei o dia assistindo a um concerto de órgão numa igreja católica ali do centro. Não me lembro o nome, mas tinha algo a ver com a Alemanha:


 



O número de tijolos ao redor das janelas do
prédio vermelho indica quantas pessoas
foram executadas no banho de sangue.

Não satisfeito com as histórias sanguinolentas daquele passeio, peguei outro bem do tipo “espreme, que sai sangue”, mas em inglês. O nome do tour era “Passeio Sinistro”, justamente por dar mais informações detalhadas sobre execuções – quem matava e que técnicas eram usadas; e também histórias de sequestro e desaparecimentos e por que Estocolmo já teve uma taxa de infanticídio muito alta. Resumindo este último tópico, pense na convenção social de que era um escândalo para uma mulher ser mãe solteira. Algumas dessas moças se escondiam até que a criança nascesse e pagava alguém para achar uma família adotiva. Só que muitas dessas pessoas encarregadas de achar uma nova família pro bebê não cuidavam dele direito, a ponto de o mesmo falecer, ou, pior, assassinava o recém nascido e ficava com o dinheiro.

Meu guia no outro dia foi Martin, da Argentina, falando também em espanhol, mostrando uma Estocolmo um pouco mais moderna – seus arranha-céus; marcas suecas famosas mundo afora como H&M e Ikea;  a história do famoso sequestro de banco em que os sequestradores e reféns acabaram se tornando amigos chegando até a ser padrinho de casamento um do outro. Foi desse caso que se originou a expressão “síndrome de Estocolmo”, que, ao contrário das outras histórias ouvidas naquele dia, teve um final feliz.

 

Outro passeio guiado gratuito que altamente recomendo você fazer é o do parlamento. Em julho de 2019, ele acontecia de segunda a sexta, quatro horários por dia e era só ficar na fila e esperar que nos deixassem entrar. O número de pessoas era limitado a 28, então era bom chegar uma meia hora antes pra garantir. A melhor parte: diferente dos free walking tours, nesse não precisamos dar gorjeta ao final. Dura uma hora e, logicamente, precisa passar por um esquema de segurança que te revista inteiro. Nesse passeio, o guia fala sobre o esquema de votação que existe na mesa de cada deputado; locais de discurso e rotina dos parlamentares; etc. Embora existam as figuras de rei e rainha, estes servem apenas para representar a Suécia pelo mundo afora, mas sem poder de tomar decisões. Suas eleições também acontecem a cada quatro anos, em setembro. Atualmente o número de deputadas é quase metade do número de deputados. Detalhe: a rainha é brasileira e se chama Silvia.

Teto de uma das salas do parlamento.
Um dos salões do Parlamento.

 

Algumas das minhas tardes suecas foram preenchidas por um festival folclórico que acontecia numa praça e nem mesmo a chuva me afastou de lá em um dos dias, porque havia comida de graça! Coisas simples, como pipoca, chá e bolo, mas poder economizar com comida na Suécia é como economizar R$50,00 por refeição porque é um lugar realmente caro. No prédio do prêmio Nobel também consegui ver um miniconcerto de jazz de graça. Há ainda outros lugares altamente recomendados de se conhecer em Estocolmo, como o Museu ABBA, pois os quatro integrantes da banda eram de Estocolmo; e o Museu Viking, que tem o famoso barco Vasa, mas ambas eram atrações muito caras.

"Anybody could be that guy".

Gamla Stan tem várias de suas curiosidades. É bom sempre olhar bem por onde anda, porque você pode passar pela escultura do "Menino de ferro que olha pra lua" (Iron boy), de Liss Eriksson e que mede 15cm. Outra coisa que reparei é que nas estátuas de nu masculino, o pênis é retratado maior do que normalmente se vê.




O menor monumento da cidade.
Te desafio a encontrá-lo.


Preços de julho de 2019, quando 10 coroas suecas= 1 euro = quase 5 reais. Logo, pra achar quanto foi pago em reais, considere metade do número em SEK:

Navio Viking Line de Helsinki a Estocolmo – 113EUR – 15 horas de viagem. Detalhe: ninguém pediu pra ver meu passaporte, nem na saída da Finlândia, nem na chegada à Suécia. A cabine interna tem só uma tomada e banheiro com chuveiro, sabonete, mas sem secador de cabelo. Viajar na cabine é mais caro, logicamente, e mais confortável se você estiver de malas, porque quem não tem cabine fica sempre carregando a mala consigo pra onde quer que vá. E não existe uma poltrona especial pra quem viaja sem cabine. Cada um fica onde der – numa mesa de restaurante, num sofá do bar, numa poltrona perto da janela... Ah! Eles chamam de ferry.

Sauna no navio – R$50,00 por 1h30min (lógico que não usei).

Prato a base de almôndegas, purê de
batatas e lingonberry – 160SEK

Uber do porto de Estocolmo à hospedagem – 100 ou 120SEK

Concerto de órgão na Igreja – 7EUR

Bilhete de transporte de 72 horas – maiores de 65 anos pagam metade.

Palácio de Drottningholm - 130SEK. Não entrei. Conheci só o jardim e assisti à troca de guarda, porque é grátis.

Parque de diversões – 120SEK. Não fui.

Prato de carne de alce – 130SEK

Sopa de peixe e frutos do mar no mercado em frente ao prédio do prêmio Nobel – 120SEK, mas podendo se servir à vontade de pão e salada.

Porção dobrada de sopa de carne, frango, macarrão, broto de feijão, num restaurante vietnamita – 200SEK e alguma coisa.

Caixa de 4kg despachada para o Brasil – 40USD

Trem Estocolmo-Oslo pela Flixbus – não me lembro. Estranhamente, o banheiro estava fedido, nem parecia país de primeiro mundo, mas a paisagem era linda demais. Até achei uma pena ter feito a viagem de noite, porque dava vontade de olhar tudo. O guarda volume da estação de Oslo é ruim, porque não tem como testar a mala na gaveta, pra ver se ela realmente cabe.

Dos 33 países que conheço, Suécia está no top 5 mais caros. Então, só se programe pra ficar muito tempo se você tiver um bom dinheiro.

Curiosidade: quase todas as casas do centro têm uma placa vermelha com um número. Não me lembro exatamente o que era, mas é uma informação de segurança, em caso de incêndio:

  

sábado, 1 de julho de 2023

Chega Mais

 "Welcome to Hel!"

trocadilho meu com a palavra hell, "inferno" em inglês e o código de três letras do aeroporto da capital finlandesa Helsinki - HEL. Mas, por mais que eu tivesse tentado fazer piadinha com esse nome ao decorrer do texto, não consegui, porque a cidade é um verdadeiro paraíso. E eu ainda descobri que já sabia falar finlandês, quando vi estas placas:

 

A primeira impressão ao chegar a Helsinki/Helsinque era de uma cidade gay. Isso foi se revelando aos poucos, por algumas bandeiras nas fachadas de alguns prédios; depois pela decoração na recepção do hotel...:

 

Só depois, ao sair pela cidade, descobri que haveria parada gay no dia seguinte. Fui e fiquei um tempinho na concentração na praça, assistindo às pessoas saírem para o desfile. A julgar pelos decibeis, o evento estava mais pra procissão do que pra parada gay porque achei bem silencioso, sem aquele clima carnavalesco que normalmente tem a Avenida Paulista. Mas foi bom ter conseguido fotos da Praça do Senado numa ocasião especial, porque pude registrá-la com um visual diferente. A cidade é meio sem cor, sem grafites e as paredes quase todas pintadas em tons neutros ou pastéis. A parada não agitou muito, mas pôs um pouco mais de cor e vida pelas ruas. Uma curiosidade: a catedral que aparece nas fotos e que está na Praça do Senado não tem a frente para a escadaria. Ao contrário do que parece, essa é uma de suas laterais. Percebi depois que entrei e vi que o altar principal estava à minha direita.

Praça do Senado e Catedral na Parada Gay.

No outro dia.

Para comer, o lugar que mais gostei foi o mercado antigo, na região portuária, talvez a mais legal da cidade, pois seus arredores tinham tudo o que eu gosto de ver numa cidade – praças, feiras, catedral, lojas, piscina pública, mirante, pessoas passando pra lá e pra cá.


Roda gigante, piscina Allas Sea Pool e navio de cruzeiros.

Eu cheguei a Helsinki sem tempo hábil de pesquisar previamente o que fazer ali (até por isso me surpreendi com a parada gay), então segui a sugestão da recepcionista do hotel, de visitar a Ilha de Suomenlinna, um dos lugares mais visitados da Finlândia e declarado patrimônio mundial pela Unesco. A ilha tem uma fortaleza, muito utilizada nas diversas guerras pelas quais o país passou. Lá há museus e catedrais, onde as pessoas gostam de casar – no dia que eu fui, vi dois ou três casais, seja posando pra fotos ou se casando, de fato. Andar por ela é super fácil porque os caminhos são muitíssimo bem sinalizados, diferenciando as trilhas com placas coloridas e em inglês. Nem precisava de mapa. A sensação de primeiro mundo estava mesmo na hora de pegar a balsa, porque nin-guém conferiu meu bilhete. "Qualquer um consegue entrar sem pagar", foi a primeira coisa que veio à minha cabeça de brasileiro trambiqueiro, mas é porque carrego a malandragem no DNA, é um pensamento praticamente impossível de se evitar, mas paguei tudo direitinho. Creio que os finlandesess nem cogitam que alguém teria motivo de trapacear.

  

Casais dançam West Coast Swing no Parque Teurastamo.

Entre outras coisas a se fazer por Helsinki, passeei no Parque Teurastamo pra fazer aula grátis de West Coast Swing e saí uma noite para dançar tango. Durante o dia, ficava observando o mar, as pessoas na piscina pública e na roda gigante, lá na região do porto; as pombas que faziam cocô na cara de todas as pessoas importantes representadas nos monumentos do Parque Esplanada; e os pássaros que roubavam a comida de todos que almoçavam na feira a céu aberto. Não achei Helsinki uma cidade muito excitante. Imagine que até a Parada Gay era uma coisa morna. Muito bonita, sim, mas saí com a sensação de que lhe falta algo. Mesmo assim, foi bom ter estado lá também.

  

Será que o hospital infantil também estava em clima de parada gay?

Preços de julho de 2019, quando um euro era quase cinco reais:

Pão Mamas Limpa (um dos melhores que já comi), fatia de salmão defumado e salada de macarrão – 25EUR, no mercado antigo.

Prato de peixe e legumes na feira do porto – 10EUR. Mas, no fim do dia, perto do horário de fechar, esse mesmo prato custa 8EUR. Cuidado com os pássaros.

Entrada de adulto para usar a piscina e sauna – 14EUR. Não fui.

Balsa para Ilha de Suomenlinna – 5EUR – 15 min. Passar duas horas lá é suficiente.

Transporte: 4EUR uma passagem ou 8EUR o passe diário. Aconteceu comigo uma situação chata, que eu entrei no ônibus e pedi pelo passe diário (daily pass). A mulher fez um X com os braços e eu repeti. Ela me deu o bilhete, mas cobrou só 2,8EUR. Fiquei sem entender direito, mas não falei nada. Ao fim da passagem tentei falar com ela de novo e, com a cara bem rabugenta me disse: “No English!”, ou seja, ela não falava inglês. Aí é que eu entendi o X com os braços que ela fez na primeira vez que falei com ela. Só que ela devia ter me dito isso antes, porque a comunicação ficou truncada e acabei desperdiçando um bom dinheiro, já que eu queria o passe diário, pra andar mais vezes de ônibus.

Milonga (baile de tango) – 8EUR. De novo, sensação de estar em primeiro mundo. Havia coisas de comer e beber lá, mas não havia ninguém pra cobrar. A gente escolhia o que queria e colocava o dinheiro numa caixinha.

Há uma praia de naturismo, mas só alguns dias da semana é reservada para tal.

Navio Viking Line de Helsinki a Estocolmo – 113EUR – 15 horas de viagem. Detalhe: ninguém pediu pra ver meu passaporte, nem na saída da Finlândia, nem na chegada na Suécia.

Vista que se tem quando se deixa Helsinki de navio.